O técnico Leão apostou alto na humildade. Explico: o time do Corinthians veio para mais este clássico contra o SPFC armado numa tática porco-espinho. Fica encolhido, mas espeta quando tocado. Humildade porque é um esquema bom para ganhar pelo placar mínimo — 1×0. Se o time abre inaugura o marcador, o adversário encontra muita dificuldade em penetrar na defesa e igualar o escore. Aposta alta porque, se e quando não dá certo, o time fica à beira de um profundo abismo.
O alvinegro do Parque São Jorge parecia muito bem ensaiadinho na sua proposta, até que, após troca de passes próxima à meia-lua, Lenílson acerta, com precisão de taco de sinuca, o canto esquerdo do gol de Marcelo. SPFC 1×0. Sem qualquer alteração tática ou física — substituição de jogador –, o Corinthians lançou-se ao ataque. E foi aí que a tática do porco-espinho revelou seu maior problema: quando não funciona, não funciona de verdade! O primeiro tempo de jogo ainda testemunharia o SPFC ampliar o placar. Em jogada bisonha do corintiano Marquinhos, Aloisio sofre pênalti. Marcelo, o goleiro corintiano, se adianta e Rogério, o goleiro são-paulino, toca calmamente no canto oposto. De novo, feito taco de sinuca.
Vem o segundo tempo e o Corinthians, agora com Jaílson no lugar do envergonhado Marquinhos, parece mais perdido ainda. A única chance de o SPFC não ganhar o jogo passa pelo pecado da soberba. Essa mostra seu vulto quando Rogério Ceni desnecessariamente encaminha-se para cobrar uma falta e bate na barreira. Tivesse o Corinthians aproveitado o rebote — fazendo um gol ou obrigando um jogador são-paulino a cometer uma falta e ser expulso –, teríamos uma vitória fácil e tranqüila transformando-se em um jogo épico. Mas não era a tarde do Corinthians e nem de Roger, que por duas vezes, em uma cobrança de falta e em um arremate de fora da área, manda a bola apenas poucos metros abaixo de onde mandou quando cobrou aquele pênalti que derrubou Passarela (lembra?).
A fatura parece se semiliquidar quando em contraataque — com seis jogadores do Corinthians só olhando, como bem observou Casagrande — o SPFC anota mais um: Aloísio, em posição milimetricamente regular, livra-se da marcação e cruza para Leandro, que estava atrás da linha da bola, converter. 3×0 e fim de papo. Será?
Parecia, já que o Corinthians arrastava-se em campo, colocando em dúvida cada centavo do salário pago ao preparador físico do time. Que é… quem mesmo? Fernando Leão, sobrinho do próprio. O desmando lá pelos lados do mais querido entre os paulistas parece chegar ao nível do nepotismo injustificado. Será que algum outro clube grande aceitaria isso? Não se esqueça de que no mesmo clube a neta do presidente também exerce trabalho remunerado.
Tocando a bola, o Tricolor Paulista envolvia o adversário, que parecia não ter força de reação. Mas adquiriu ânimo extra quando a torcida rival começou a gritar “olé!”. Aloísio até tentou brecar as firulas são-paulinas, acenando aos companheiros de camisa. Roger finalmente acertou uma jogada, infelizmente, nesse caso, um rabo-de-arraia desajeitado no adversário que acabara de firular. Ficou por isso mesmo e, na firula seguinte, Magrão, tomado talvez por um excesso de vigor (para não usar outra palavra), atingiu Leandro e foi expulso.
A partir de então o time de Itaquera melhorou muito. Tudo bem que o SPFC tirou Aloísio e Leandro e, com três gols de vantagem, relaxou. Mas creio que o Corinthians melhorou mesmo porque Magrão saiu. Imagine então se tivesse entrado um jogador no lugar dele!
Mesmo assim, o timão precisou do árbitro para conseguir o gol de honra. Em troca de passes próximo à área do rival, um jogador são-paulino tocou a bola, que bateu em Paulo César de Oliveira. Um corintiano pegou a sobra, lançou Arce, que cruzou à área e, após falha de Rogério Ceni, Wilson anotou.
Seguiram-se aproximados dez minutos de pressão corintiana que sempre parava na defesa são-paulina ou na má fase de Roger. O SPFC agora é que demonstra uma visível queda — se não física, de entusiasmo. Mas, aos 45min, a soberba mostra-se de novo. E desta vez não apenas como vulto. Falta rente à área adversária, lado esquerdo do ataque, para o São Paulo. Rogério mais uma vez encaminha-se para bater e, de novo, acerta a barreira. A sobra é corintiana e Jadílson, um motorzinho pela ala canhota tricolor, derruba Arce. Cartão vermelho, justíssimo. E aí eu pergunto: de quem foi a culpa? De Rogério, que bateu mal? (Não discuto ele cobrar ou não esta falta.) De Jadílson, que não precisaria ter derrubado o adversário?
No futebol, muitas vezes a culpa maior é da soberba.
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